Com crescimento puxado pela Geração Distribuída (GD),
conhecida como autogeração, o setor de energia solar enfrenta dificuldades
burocráticas para efetuar a conexão com o sistema e de oferta de equipamentos
no País.
“Muitas distribuidoras têm dificuldades de atender
solicitações das usinas rapidamente e isso acaba travando o mercado. Atrasa o
processo e traz insegurança para o investidor”, afirma o presidente da
Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista.
Ele explica que o processo de conexão, previsto para 40
dias, muitas vezes demora de três a quatro meses. “Quando ocorre esse atraso,
fica registrado na Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], mas na
prática, isso não acelera a conexão”.
O diretor de novos negócios da Sices Brasil, Lucas Troia,
destaca que o País também passa por problemas em relação à disponibilidade de
equipamentos.
“O mercado chinês, que é o principal fabricante, aqueceu e
está consumindo mais. Acaba sobrando menos produtos para o Brasil”.
O executivo da empresa de fornecimento de sistemas
fotovoltaicos para geração de energia solar explica que o mercado nacional
acaba ficando refém da demanda global. “Há vulnerabilidade em relação à
flutuação cambial. Os módulos e os inversores são importados”, relata.
Troia conta que o custo da produção local é muito elevado em
relação à China. “Por conta da tributação, a fabricação acaba encarecendo.
Para fazer o financiamento via BNDES, é exigido um índice de
nacionalização dos componentes. Os investidores têm que fazer a conta se vale a
pena ou não”, observa.
Ele acredita que, com o crescimento do mercado, no futuro
haverá novos players para fabricação no Brasil.
De acordo com projeções da Associação Brasileira de Energia
Solar Fotovoltaica (Absolar), o setor ultrapassará a marca de 3 mil megawatts
(MW) até o final do ano, atraindo ao País mais de R$ 5,2 bilhões em novos
investimentos privados, com a instalação de mais de 1 mil MW adicionais em
sistemas de pequeno, médio e grande porte.
Com isso, o crescimento anual do mercado será de 88,3% sobre
2018. No segmento de microgeração e minigeração distribuída, a estimativa é de
avanço de 97% ante o ano passado.
“A GD está crescendo de uma forma exponencial no Brasil. São
mais de 73 mil conexões desde a publicação da resolução normativa 482/2012”,
conta Evangelista.
Recentemente, a Aneel abriu uma consulta pública para
atualização da resolução. “A discussão mais relevante é a remuneração do fio.
Alguns agentes entendem que a GD deveria remunerar mais o
distribuidor pelo uso da infraestrutura”, conta o dirigente.
Troia entende que o processo de discussão será muito intenso
e espera que a revisão seja favorável ao desenvolvimento do mercado.
“É importante que essa revisão não venha a atrapalhar o
segmento, que tem um grande potencial de gerar renda e emprego e ser um motor
para a economia”.
Troia conta que a Sices Brasil cresceu 300% em 2018,
alcançando o faturamento de R$ 666 milhões, ante R$ 182 milhões em 2017.
A expectativa é manter esse patamar de crescimento em 2019 e
investir até R$ 300 milhões nos próximos dois anos.
“A procura está crescendo muito, por conta do aumento das
tarifas e da redução de custos da energia solar. Também é benéfica a maior
difusão de informações”.
Leilões
Ao contrário da área de GD, a geração centralizada, composta
por usinas de grande porte, deverá ter incremento abaixo do esperado pelo
mercado. De acordo com a Absolar, em 2019, serão adicionados 380 MW.
“Houve uma desaceleração dos leilões de energia e o mercado
fotovoltaico ficou todo voltado para a geração distribuída”, diz Evangelista.
Para a Absolar, o baixo volume é resultado do cancelamento,
pelo Ministério de Minas e Energia (MME), de dois leilões de energia solar que seriam
realizados em 2016.
A participação do segmento de geração centralizada no
mercado fotovoltaico passará de 78,1% até 2018 para 65,8% até o final de 2019.
Fonte: Ambiente Energia